quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Clown

- És uma estrela quando estás em palco, diz ele. Ele mente para me fazer feliz. Eu sei; e fico feliz na mesma :)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Pain is so close to pleasure

É uma letra dos Queen.

E eu acho que estou a descobrir o meu lado maso.
Na segunda fui à fisioterapia. Era o homem a esmagar-me a contratura e eu a apreciar a dor.
No fim, deixou-me duas bandas de kinesio taping nas costas. Andei a semana toda com uma pinta de desportista impressionante.
Aliás, mais pinta de desportista só mesmo se fizesse desporto.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

24h de náuseas

Vomitei palavras, e aliviou.

Karma

Bolinha de sabão: se te tocar, desfaço-te. Se não te tocar, desapareces.


 
 
Há pessoas assim, como bolas de sabão. Bonitas; mas efémeras.
Ou então, no fundo, somos todos bolas de sabão - para algumas pessoas, em alguns momentos.

Best of não-memórias parte 1

Hoje decidi escrever as minhas memórias.
Que romântica estou.
Para o caso do mundo acabar amanhã. Se não for nada apocalíptico, pode ser que o computador sobreviva.
E se depois reencarnar num bicho qualquer, nem que seja unicelular, pode ser que reaprenda a ler, a ligar o computador, e venha cá lembrar o que me contaram que andei aqui a fazer. Tudo hipóteses muito viáveis.

1986 - Foi o ano em que nasci. Não posso dizer que tenha sido um começo muito auspicioso. Tiveram que me dar umas palmadas para chorar. Deve ter sido aí que aprendi que o melhor é disparar qualquer coisa boca fora antes que me batam. Aparentemente, estar calada não é solução.
Diagnosticaram-me logo ali à nascença toxoplasmose. Só há poucos anos é que descobri que é tecnicamente inviável eu ter tido toxoplasmose. Segundo a pediatra que me dava aulas, se eu tivesse mesmo nascido com toxoplasmose, não podia estar a assistir à aula dela naquele momento. De qualquer forma, foi diagnosticado e está registado no meu boletim de saúde. Até fiz tratamento. O tratamento incluía atividades lúdicas interessantes para recém nascidos, como picar o pescoço várias vezes consecutivas até me encontrarem uma veia para fazer análises. Vá lá que pelo menos a medicação efetiva era dada em gotinhas. Mesmo assim, chegou para ficar com medo de injetáveis. Até hoje. (Desculpa D. o trauma a que te expus quando treinaste a tua primeira intramuscular na minha nádega, não era nada contigo, juro).

1987-1988 - Tinha o cabelo muito rarinho. A minha mãe arranjou uns laços com umas tiras autocolantes e espetava-me aquilo na careca para toda a gente ver que eu era uma menina. Em compensação deu-me de mamar até perto dos dois anos.

[Pronto, por hoje chega. Vai dormir Maria, que o teu mal é sono.]
 

Mim

Que saudades tinha de uma boa insónia. Saudades desta atordoação, sensação de formigueiro cerebral excitado. Às vezes dou por mim a sentir-me pessimamente, desfeita. E então observo-me de fora - ou de dentro, sei lá... - e reconheço como é maravilhoso sentir-me tão mal.
Sentir - no geral - é fantástico. É uma oportunidade.
Espero em latência tempo infinito sem sentir. Mas estou materializada; e poder tocar, cheirar, sorrir e estar em êxtase é tão válido como remoer, sentir raiva, revolta e frustração. Sinto com intensidade, e desde que seja assim, vale a pena.
Depois é observar, guardar a sensação e assumir que viver é um espetáculo incomparável.

Gente, gente...

Tudo tão maravilhosamente diferente, tudo tão ridiculamente igual.

Que 2013 me traga

Um cu com enchimento de chumbo, que me impeça de levantar nos dias que mais vale estar mesmo quieta.
Asas nos pés, que me façam voar nos dias que valham mesmo a pena ser vividos.

Detetor de inquietação

Oitenta por cento da noite com insónia. Aquele pensamento recorrente "só queria que inventassem um gravador de pensamentos".

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Done

 
***
Era só mesmo para ser o título e a imagem, mas não consigo deixar de reparar como é curioso... tanto em tão pouco.

Escolha

Se eu me encontrasse com esta imagem num poste qualquer, tirava todos os papelinhos.


sábado, 15 de dezembro de 2012

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Caliente

Senti que te aproximavas no meio da noite. Vinhas até mim, e eu libertava todo o calor que tinha para te dar. Aqueci-te, sinto que te aqueci. Estavas cada vez mais perto - e tu também, cada vez mais quente. A nossa relação era escaldante, talvez um pouco demais para ti. Foi então que tocaste nos meus botões. Mas o que parecia ser uma atração infinitamente poderosa, depressa se revelou uma desilusão. Eu arrefeci, tu também. O espaço onde estávamos arrefeceu. Tinhas-me desligado.
Ass.: O Aquecedor

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Cólica cardíaca

Quem já teve uma cólica a sério vai perceber o que digo. Mas é preciso remeter-se a uma boa cólica, daquelas valentes, que dá suores frios e arrepios de dor, que dá a sensação de morte eminente.
Volta e meia, sofre-se de cólicas cardíacas.
Na tentativa de se libertar dessa opressão ridiculamente persistente, o coração insiste em apostar numa alternativa aos flatos, já que esse órgão é fisiologicamente incapaz de os produzir - as palpitações. Não!, disse mal - os estrangulamentos cardíacos, será mais adequado. São tantos e tão fortes, que reduz o "coração a sair pela boca" a uma expressão para meninos.
O corpo treme todo, da cabeça aos pés. A visão fica turva, o pensamento toldado. A barriga aperta, como se levasse um soco mas não conseguisse sentir dor. O corpo contrai. A respiração transforma-se num arfar aflitivo. Quase se consegue ver a olho nu a descarga de hormonas que se lançam na corrente, completamente desorientadas: adrenalina, dopamina, endorfinas... todas as "inas" que, presentes em quantidades vestigiais são, ainda assim, capazes de reduzir o nosso corpo e tudo o que está dentro dele a um autómato imbecil. E quando se exacerbam os sintomas em simultâneo? É a mímica perfeita de um ataque de pânico e ansiedade. Como se nos cruzássemos com um leopardo enfurecido e descobríssemos que temos os pés colados aos sapatos, e os sapatos colados ao chão.
É mau, mau demais. Como uma doença psiquiátrica que alterna períodos alucinatórios com momentos de lucidez. Como se não nos pertencêssemos mais. Não nos pudéssemos prever, não nos reconhecêssemos naquelas reações biológicas estranhas e desprovidas de sentido, na inacreditável falta de bom senso e sensatez.
A má notícia: não há sanita p'ra aliviar este tipo específico de cólicas.
A magnífica notícia: duram muitíssimo pouco.
Depois, é só o tempo de nos esquecermos o quão exasperante e nocivo para o corpo é, para logo voltarmos a suspirar por um momento mais assim. E põe-se tudo em causa, como um viciado que troca a vida toda por uma droga qualquer.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Silence is golden

"To have nothing, to know nothing, to be no one"

***
Meditação é liberdade espiritual, estar livre de todas as experiências.
Estar imóvel, significa que quero ser livre mais que qualquer outra coisa.
O relaxamento profundo significa que deixo tudo ser como é.
Prestar atenção significa que não tenho nenhuma relação com o pensamento ou sentimento.
***
 
(45 minutos a uma hora de silêncio. Imobilidade. Costas alinhadas. O gongo marca o início. O gongo marca o fim. Entre uma coisa e outra - nada. E tudo. Uma eternidade, um segundo.)
 
Chegada na sexta-feira às 19h30, noite cerrada já. Aventura por estradas monte adentro, guiada pelas estrelas e dois ou três habitantes de uma povoação desconhecida pelo GPS, que me davam informações contraditórias.
De alguma forma, cheguei.
 
"Côn-tsei-tsaum, cómo tchegaste até nós?" - perguntou a Jutta, anfitriã, e eu respondi. "Procurei no google: retiros, e apareceu este; li por alto, não pensei muito sobre isso. Senti que queria vir, e vim. Se pensasse muito, provavelmente não viria. Mas... no caminho para cá comecei a pensar sobre isso, e... neste momento sinto-me muito feliz porque nenhum de vocês tem cara de assassino."
 
Cada um partilhou muito por alto como lá chegou. Alguns em solidariedade assumiram que partilharam da minha visão filme de terror, que afinal não se concretizou.
 
Jantar vegetariano absolutamente divinal. Explicar as regras. Simples. E complicadas. Aliás, este fim de semana foi um paradoxo pegado.
Preparar para o silêncio. Tirar relógios, desligar telemóveis. Não podemos falar, olhar nos olhos ou comunicar de qualquer outra forma com ninguém, para além do lider espiritual, e apenas nas sessões determinadas para pergunta-resposta. Não podemos ajudar na cozinha, ou em qualquer outra tarefa. Não podemos ler, escrever, pintar, ou produzir o que quer que seja. Somos nós, e o mundo, e o mundo dentro de nós. Só isso, mais nada. Voltar-nos-íamos a encontrar no domingo, no final da tarde.
Nessa noite, já não houve "boa noite", embora fossemos quatro pessoas a partilhar o quarto.
Na manhã seguinte, senti-me sozinha, acho que pela primeira vez. Um nó no estomâgo que durou uns segundos, e nem percebi se era uma boa ou má sensação. Talvez fosse um certo furor misturado com medo.
 
Programa simples. Acordar às 7h15. Às 8h primeira sessão de meditação. Depois disso, pequeno-almoço, sessões de meditação, almoço, sessões de meditação, lanche, sessões de meditação, jantar e... sim, sessões de meditação. Algures pelo meio uma sessão de pergunta-resposta.
 
O treino da disciplina, e a disciplina necessária para permitir que aquilo que somos de verdade consiga afastar ou silenciar o que temos alimentado mal demais, vezes demais - a mente; é algo rigoroso e duro por vezes. Mas um segundo de silêncio compensa uma vida de caos. Pela primeira vez desde que me entendo como gente, e depois de ter experimentado mil e uma coisas - mesmo mil e uma coisas - sinto que estou no meu caminho.
Eu procuro liberdade espiritual, perceber o que sou, o significado da vida, para onde vou, com que energia e porquê. Estudei comunicação por causa disso. Cuidados paliativos provavelmente pelo mesmo motivo - compreender a questão da vida e da morte. Reiki. Fui a palestras de programação neuro-linguística. Fiz exercícios de relaxamento e mindfulness, até pedi a uma colega para me ler o tarô e por pouco não caí numa sessão de espiritismo. Li dezenas de livros de espiritualidade. E nenhum, nada, me disse algo tão perto daquilo que ouvi este fim de semana, daquilo que eu própria já suspeitava. Há uns tempos publiquei um post sobre o que pensava quando andava sozinha. Este post. Pois é, quando andava sozinha provavelmente já estava a meditar sem saber. E a ideia do todo que se ramifica - esse todo, que ainda não percebo bem, encontra-se com o que o Pete descreve. Pete é um dos co-fundadores do projeto Awakened Life, que sinceramente não conhecia até poucas semanas atrás. O projeto é este, para quem estiver interessado nesta questão da evolução da consciência.
 
Voltemos ao silêncio. Silêncio, só isso. E o entendimento que nos pode trazer. Ser, apenas. E deixar ser. Três dias em que estive sozinha, e tão-tão acompanhada. Tão integrada em tudo o que me rodeava. A sentir tudo como parte de mim, e eu como parte de tudo. De todos. De sempre.
Muito tempo à volta da lareira, da comida, pelas ruas daquele povo isolado, pelos jardins, deitada num trampolim gigante a ver nuvens e ar, abandonada ao balançar que me libertava. E eu era tudo aquilo. E eu não era nada. Nada desta matéria é real. E tudo é... tudo é um. No fundo. Mas é preciso acordar. Deixar de viver escravo do ego, da mente.
 
Paradoxos em palavras, mas verdades essenciais. E as palavras, afinal, o que são? Senão um engano da mente. Uma construção. Tão limitada...
 
No domingo já era escuro quando nos voltamos a olhar e falar. Comer as delicias finais. Trocar impressões breves. Depois disso; partir, recomeçar.
 
(toca o gongo, assinala o fim)
 
***
O Fogo do teu Coração deve brilhar intensamente.
Esse fogo dar-te-á toda a energia, intenção e força de caráter para suportar, perceber, e em última instância ver através da tua própria mente.
Esse fogo será a tua meditação e nesse Fogo, a tua ignorância, que são todas as tuas ideias erras, irá arder.
***

sábado, 17 de novembro de 2012

Chamemos-lhe Pedro

Claro que não é o nome verdadeiro, que o sigilo profissional não permite. Mas faça-se de conta, que para o caso é o mesmo.
O Pedro vem com regularidade ao sítio onde trabalho, administro-lhe uma medicação para a doença degenerativa que lhe foi diagnosticada, que está excecionalmente bem controlada. É um homem novo, bem-disposto e educado, que detesta enfermeiras.
No primeiro dia que lá foi - há uns meses atrás - explicou-me que não era grande fã de injeções porque tinha sido casado com uma enfermeira que fazia de propósito para o aleijar quando o picava depois de discutirem.
Cada vez que lá vai conta-me uma nova história traumática em relação a enfermeiras.

Hoje:
- 'Tou cheio de sono, porque tive de me levantar cedo para vir tomar a injeção.
- E porque é que tem de se levantar cedo Pedro? Esta medicação tem hora para ser administrada?
- Não, porque você só está aqui de manhã (fez uma pausa enquanto eu preparava a seringa) Ao centro de saúde não vou mais. Nunca mais lá ponho os pés, fogo!
- Porquê Pedro? Não administram sem a guia de tratamento?
- Não, não é por isso. Mas já ma fizeram ir buscar ao carro. É um filme sempre que lá vou: "Ai não sei como se abre isto" Não sabe como se abre isto?? Enfim...
- Ó Pedro, mas olhe que esta medicação não é muito habitual, é natural que não saibam.

[Pausa para esclarecer que eu já o fiz ir buscar a guia de tratamento ao carro, e no primeiro dia que lá foi teve de me explicar como se abria a medicação].

O homem é mesmo corajoso. Colocou-se em posição e baixou ligeiramente as calças. Destapo e agulha e ele desata a desbobinar, muito rápido.
- Não gosto nada de enfermeiras. Pronto não gosto. Tenho más experiências. Não gosto mesmo nada de enfermeiras. Nada contra si, contra si não tenho nada, não leve a mal. Não se vai vingar agora na injeção pois não?
- Não Pedro, eu nunca faria isso. E deixe lá que eu também não gosto de Pedros. Não sei, tive más experiências com Pedros. Não gosto mesmo nada de Pedros. Não é nada contra si, não leve a mal. Só  não gosto de Pedros. Doeu mais que o costume?

E caimos os dois em gargalhada.

Ponto, ponto, ponto (ou a gramática da vida)

Um ponto no final da frase marca o fim.
Um ponto é o ponto final.
Vários pontos finais consecutivos, porém, convertem-se em reticências.
Talvez na vida seja assim também... ou se consegue fazer um ponto final duro, certeiro, inviolável; ou se se volta atrás umas quantas vezes, já tudo se transforma numa f(r)ase suspensa.


 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Respira, São!

Inspirar. Encher o corpo. Levitar.
Voar. Voar.
Expirar. Quase cair. Acordar.

domingo, 11 de novembro de 2012

Estava aqui a lembrar-me

Quando a C. esteve internada, há mais de um ano atrás, a coisa complicou-se a sério. Tanto, tanto, que houve um dia que chorei de medo de não a voltar a ver bem.

A C. é daquelas pessoas que entra para ficar. Conhecemo-nos na primária, mas só lá para o sétimo ano ficamos amigas. A turma em que andavamos decidiu que eu não era "fixe" o suficiente para ter uma vida descansada e quase todos faziam um esforço verdadeiramente impressionante para me estragar o dia - todos os dias. A C. era minha amiga nessa altura. Boa parte das minhas memórias desse tempo são de nós a fazermos idiotices, a cantar as músicas dos reclames e a representar o Mike e o Melga nos intervalos. Ela foi uma das responsáveis por tornar a missão dos idiotas muito mais complicada. Provavelmente foi nessa altura que desenvolvemos um humor muito nosso, muito irónico. Se pudessem ouvir as nossas conversas, ainda hoje, provavelmente pensariam que somos umas pestes. Mas, talvez, tenha sido essa a forma que encontramos de enfrentar os problemas.

Mais tarde apaixonamo-nos. Curiosamente por irmãos. E tudo correu bem, até ao dia em que nos apaixonamos pela mesma pessoa. Eu nem bem me apaixonei para dizer a verdade, mas cometi um erro amoroso, digamos assim, e isso minou-nos. De tal forma que, passados uns tempos, por várias pequenas coisas, acabamos por cortar relações.

Mais de um ano depois, soube que lhe tinha sido diagnosticada uma doença crónica. Fui à casa dela, e quando ela abriu a porta demos um abraço até à alma, pedi-lhe desculpas e as duas assumimos que tinhamos sido umas totós, por nos chatearmos por coisas tão pequenas que nenhuma das duas se lembrava quais tinham sido.

Voltando àquela última vez, em que ela foi internada, a C. teve direito a tudo: tratamento com corticóides, tratamento com medicação experimental, catéter central, pneumonia, desorientação, convulsões, transferência para o hospital de Braga, transfusões e até aniversário num quarto de isolamento. Fui uma das priveligiadas que pode entrar no quarto no dia de anos. Tiramos umas fotos em que eu estava com a máscara de bico de pato, das quais até hoje nos rimos. Rimo-nos de quando se vestiu e tentou sair do hospital sem saber o que fazia, de quando comeu guardanapos a achar que era outra coisa qualquer. Às vezes rimo-nos, às vezes falamos a sério. Do medo que tivemos, de como ela sofreu por ser agarrada à cama e, mesmo estando já consciente, o enfermeiro continuava a falar como se ela não fosse um ser humano, como se ELE não fosse um ser humano, do que custou à mãe dela dormir aqueles meses todos no hospital a ter de a vigiar todos os segundos, não fosse a C. confundir a janela com a porta de casa.

Na verdade, com ela aprendi que nos podemos rir de virtualmente tudo. Admiro a coragem por ter a capacidade de o fazer, e acaba por ser uma forma incrível de se viverem as situações e de tirar delas algumas boas memórias, apesar de tudo.

Estava aqui a lembrar-me disto, de forma triste. E lembrei-me disto por me lembrar dela. Por pensar que, num dia como hoje, provavelmente nem ela me conseguiria fazer sorrir.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Letargia

Tenho sono desta vida. Não por nada de extraordinário, nenhum acidente de percurso, ou pelas coisas que tenho de fazer. Só sono, um cansaço que não passa quando durmo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Começa assim


"Era uma manhã muito, mas muito cinzenta. Poderia não sê-lo meteorologicamente, mas aos olhos de Maria era, sem dúvida, a manhã mais cinzenta que já vira ao acordar. Era o seu último dia. Levanta-se, toma o duche, lava os dentes. Come o pequeno-almoço, refeição que mais gosta, com tranquilidade. Aparte da tristeza do céu, era na verdade um dia muito calmo. Pardacento, triste, mas calmo, como um cemitério às 3 da tarde.

Depois de lavar a louça, troca os chinelos confortáveis por uns sapatos. Hora de sair à rua, trabalhar. Decide-se por cumprir este dia comum, como última homenagem ao facto de ter estado viva."

Caraças, caraças! Tenho uma tese para fazer e a Maria e o D. andam a fervilhar na minha cabeça.

sábado, 13 de outubro de 2012

Tu

És a incógnita da minha equação. Por isso às vezes te odeio tanto como te amo.

O meu corpo é o teu território

O meu corpo é o teu território. Pedes licença para entrar como quem pede licença a si próprio. O meu corpo é um prolongamento do teu, uma extensão.

Conquistaste-o quando me penetraste a alma.

Quando me dispo de pudores olhas para mim como se nunca me tivesses visto dessa forma. É sempre um olhar de admiração e descoberta. Todas as vezes são a primeira. E é com esse olhar que entras em mim antes de me tocar.

Cobardia

A cobardia é mais do que a ausência de coragem para fazer coisas. É bem mais que isso – é o medo de enfrentar a verdade. Enterrá-la o mais fundo possível e fazer de conta que não se sabe aquilo que, no fundo, não deixa nem um fiapo de dúvida. Fazer ouvidos moucos, passar por cima, evitar sequer lembrar o que se sente, o que se sabe. No fundo, viver como se não se fosse morrer nunca. Viver a vida que não lhe pertence, que não é sua, que nunca foi, nem nunca será.

Fazer de conta que não se sabe isto e andar para a frente é cobardia.

E até nisto há uma boa dose de coragem.


sábado, 6 de outubro de 2012

Há cinco anos atrás

Precisamente. A estas horas estava a dormir numa cidade do Pólo Norte. Tinha chegado há muito pouco tempo a Rovaniemi, a terra do Pai Natal. Há cinco anos atrás fui à Finlândia ver como se fazia enfermagem comunitária. Fiquei lá precisamente 89 dias, durante os quais escrevi um diário - coisa que já não fazia desde pequena, quando ainda usava aqueles super-seguros-com-cadeado-e-chave-miniatura. Calculo que talvez uns oitenta por cento do "diário" - que é um caderno normalíssimo, de linhas A4 - está cheio de baboseiras, principalmente acerca das saudades que tinha de casa. Suponho que as saudades em si não sejam baboseira nenhuma, o mesmo já não posso dizer sobre escrever a mesma coisa praticamente todos os dias. Apesar de não ter ainda relido por completo o que escrevi nesse período, considero a maior relíquia que trouxe de lá, porque faz renascer a memória das coisas. Agora que já passaram cinco anos, ocasionalmente abro uma página aleatória, nos raros momentos em que quero revisitar aquele sítio. E hoje aconteceu isso. Mas, como por esta altura estava mesmo lá, em vez de abrir uma data qualquer, fui relembrar o que fiz justamente no dia de hoje, mas desse ano, em que nem me lembrei que era feriado em Portugal. E há cinco anos atrás, a esta hora, já tinha escrito no meu diário: 

"Rovaniemi, Finlândia                                5 de Out. 2007                                      23h32m

Dia 32

Escrevo hoje, pela primeira vez, fora de Savonlinna. Nesta viagem que foi a  mais longa da minha vida descobri o verdadeiro significado, não do tempo cronológico, mas do outro - aquele que se vive. É que esta viagem de dez horas não me pareceu tão longa como a de avião, que me trouxe à Finlândia.
Atravessamos a Finlândia do Sul até ao Norte, e o que pude ver enquanto ainda era dia, era em tudo semelhante a Savonlinna. Estou curiosa que amanheça para ver Rovaniemi, porque quando chegamos, além de ser noite, estava nevoeiro cerrado.
As outras três do quarto já dormem, e não devo demorar muito a acabar de escrever porque tenho a luz do quarto acesa. A M. acabou por vir, mas só decidiu uma hora antes. (...)
Hoje estou com mais saudades de casa, daquelas pouco saudáveis, que doem. Na viagem tive de apagar mensagens do telemóvel, porque estava com a memória cheia, e relê-las deu-me tantas saudades!... (...) Hoje comecei a ler a Paula de Isabel Allende, que a C. me emprestou, e estou a adorar! Isto não vem a propósito de nada, simplesmente tenho-me esquecido de comentar que acho fascinante a capacidade que os Finlandeses têm para se rirem de si próprios. Na nossa turma, um óptimo exemplo, foi quando fizeram a representação para apresentarem o país, e recriaram cenas caricatas: eles bêbedos e nus na sauna, a fecharem a porta na cara uns dos outros, sentarem-se longe ou preferirem ficar a pé a sentar-se perto dos outros no autocarro, (...) Ontem quando vinha à tarde para a escola, com dois colegas finlandeses que pertencem ao meu grupo de trabalho, depois de irmos à rua "to continue to collect daaaaaaaaata" as S. sais, eles preferiram subri quatro andares a pé, do que ir no elevador, que estava mesmo ao lado das escadas. Claro que eu ia-lhes a dizer que não percebia porque é que eles subiam e desciam tanta escada e eles responderam logo que preferem porque faz bem à saude mas claro que depois ficam a cheirar mal e assim também ninguém se chega ao pé deles e por isso andam sempre sozinhos, tristes e não têm amigos. Fartamo-nos de rir os três com a ideia(...).
Amanhã de manhã vamos tentar encontrar o Pai Natal. Hoje escrevi-lhe uma carta para entregar amanhã:
Dear joulupukki / Querido Pai Natal
My name is Maria and I'm 21 years old.
You might find strange that I'm writting to you (perhaps I'm a little old for that) but the true is that I'm having so much pleasure doing this. Deep down inside I still believe you. (...)"

E a carta seguia por ali fora a pedir uma série de coisas remélicas, tipo voltar bem para coisa e coisas do género.

Há cinco anos atrás, eu escrevia uma carta ao Pai Natal. A emoção era tanta, que lhe dizia que ainda acreditava um bocadinho nele. Achava que estava bem lançada, estava satisfeita com o que fazia para a idade que tinha, embora quisesse sempre mais. Tinha saudades terríveis da minha terra, do calor, do mar, do cheiro, e principalmente das pessoas que amo.

Cinco anos depois foi dia de hastear a bandeira ao contrário na comemoração da Implementação da República. E foi o próprio Presidente da República que hasteou a vergonha da nação - em mais do que um sentido. Olho para trás, para os cinco anos que passaram, e acho que não vivi o suficiente. Fico com sede do que não vivi, e tenho tanta, tanta pena que a minha profissão condicione de forma tão importante o meu bem-estar. Vivemos numa ditadura, disso não tenho dúvidas. Num estado de terror, de caos, de impunidade, onde praticamente só se safam mesmo bem os incompetentes e os burlões. Onde as pessoas de valor têm dificuldade em encontrar lugar, tal é a debandada da coisa. Não sei se o problema está no país, se no mundo, se em mim, mas não estou a encontrar o meu lugar. E por mais que queira que a minha casa seja ao pé de quem amo, esta casa mete-me medo, está a ficar fria, e a minha necessidade de partir já é tão grande quanto o meu desejo de ficar.

E a história do Pai Natal não acabou da melhor forma. O bocadinho de romantismo que tinha foi ao ar quando vi que custava 20eur tirar uma fotografia com ele. E pior foi quando falei com ele e vi que não sabia falar português. Ele prometeu que era o próximo idioma que ia aprender, mas um Pai Natal a sério havia de ser mais poliglota que aquele da televisão.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Também estou além

 

Só quero o que não tenho. Por isso deixo o que tenho. O que tenho passa a ser o que tinha. E o que tinha é o que já não tenho. Eu quero o que não tenho. Vira o disco.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Aquele momento

Em que eu provo a comida, parece-me que falta alguma coisa, abro o armário das especiarias e f*do tudo. Priceless*

Para hoje temos massa!

Sim, sim, eu sei que devia deixar a cozinha em paz. Que ninguém tem tantos pecados para expiar que precise de a comer para se redimir. Mas, todos os bons cheff's começaram por algum lado...
E sim, também sei que já comecei há tempo suficiente para ainda não ter aprendido. Mas...mas... mas... enfim, à falta de melhor argumento, penso no Linguini do Ratatouille e renovo a esperança.
Isto para dizer que, pelo cheiro, não augura grande coisa a quem está a chegar com fome do trabalho. Só espero que a fome seja suficiente.

domingo, 16 de setembro de 2012

Com medo

De andar sem dar a mão.

sábado, 8 de setembro de 2012

Alexander Supertramp, estou chateada contigo!


Ontem vi o "Into the Wild", a história verdadeira de um rapaz chamado Christopher McCandless, que decide deixar tudo e partir numa viagem sozinho até ao Alasca, tendo pelo caminho adotado o nome de Alexander Supertramp. Estou tão chateada com ele, tão magoada, tão incomodada, que ainda não consegui digerir. Nem consigo verbalizar grande coisa sobre o filme, exceto que mexeu comigo.
Este é o auto-retrato verdadeiro que tirou pouco antes de morrer.

E, no fim, "a felicidade só é verdadeira quando partilhada".

Um post do c...piiiiiiiii

Gosto muito de dizer palavrões. Saem-me tão naturalmente como um "bom dia" ou um "passas-me um guardanapo se faz favor?". Claro que em geral só o faço no sítio certo, e com as pessoas certas.

Quando estou feliz digo "f*da-se que 'tou mesmo contente"
Quando me aleijo sai um "car*lho que f*di o/a [e acrescento a respetiva parte do corpo]"
Quando estou a tentar ler o livro que o E. me emprestou "P*ta que pariu que não percebo nada desta m*rda".
Quando estou há três meses a tentar chorar e não sai uma p*ta de uma lágrima - e eu bem preciso porque às tantas, de tanto encher o meu tanque interno, o meu vocabulário começa a ficar afogado e preciso mesmo de escoá-lo sob pena da maioria dos vocábulos se converter em 5 ou 6 obscenidades e me sairem pérolas do tipo "p*ta que pariu o c*ralho desta m*rda" - quando estou há tempo demais sem conseguir chorar, prefiro dizer "rais'foda" porque esse mix faz despontar um nadinha de piada dentro de mim.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que penso quando ando sozinha

Olho para a palma da minha mão com os dedos afastados.

Comparo com a árvore que tenho à minha frente.

Lembro-me da couve de brócolos.

Vem-me a imagem do sistema respiratório - a traqueia que ramifica nos brônquios, nos bronquíolos, nos alvéolos.

O tronco cerebral, e o cérebro.

Uma petéquia.

A árvore genealógica.

O meu corpo todo, que é como a minha mão mas com os membros em posição distinta dos dedos.

O sistema circulatório - as grandes artérias, que desembocam em veias, que se ramificam em finíssimos capilares.

E a folha da árvore para a qual olho, com uma nervura central que desagua em nervuras secundárias.

Olho para tudo o que tem vida, e vejo o mesmo. Reparo em tudo o que não tem vida, e não vejo diferenças.

Por momentos parece-me tudo tão, tão igual. Tudo tão vindo da mesma regra, descendente do mesmo princípio universal, tudo tão pouco ao acaso. Um troco comum (ou uma traqueia, ou um troço, ou um braço, ou uma artéria), que se ramifica em algo distinto, cada vez mais pequeno, às vezes tão pouco semelhante ao início que o origina que nem parece que veio de lá.

Este era o mistério que eu queria mesmo saber. A verdade que dá sentido a tudo. Aquela que me esqueci por algum motivo, mas que nem por isso deixou de existir.
Acredito nisso da mesma forma que acredito que vivi entre os 0 e os 3 anos, embora não me lembre de nada.
Suspeito até que este início de vida com amnésia prolongada seja uma lição de fé.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Era mesmo escusado miúdo!...

Ele - Se não estivesse salgado, o empadão estava uma delícia............ (dá duas garfadas) E se a minha avó tivesse rodinhas...

(E eu engasgo-me a rir com a coca-cola)
 
 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quando era pequena

Acreditava que quando a Lua estava em quarto crescente, assim muito fininha, como esteve ontem à noite, picava nas pontas, e os homens que tivessem que ir à Lua não podiam escolher os dias em que ela estivesse assim, porque era difícil equilibrar a nave num espaço tão estreitinho, e porque se, sem querer, batessem nas pontas picavam-se à brava.

 
Pensava que o Sol pousava mesmo no mar, e todos os pescadores tinham de ter cuidado para à hora do pôr-do-sol não se aproximarem muito daquela zona senão ficavam escaldados. Então o Sol entrava pelo mar adentro, ia até às profundezas da Terra, e durante a noite passava muitos metros abaixo das nossas camas (claro que era por isso que à noite estava escuro, e fazia mais frio), ia sempre em frente, sempre em frente, pelo meio do planeta, até que de manhã chegava finalmente ao outro lado, irrompia pelo monte, e lá estava ele outra vez, a tirar a luz de dentro da terra, pronto para voltar a fazer o percurso no céu até ao mar, onde chegava outra vez já no fim do dia.

Tenho saudades disto que nunca mais vou ter, a ingenuidade de perceber tudo apenas como os meus olhos vêm. A imaginação de não pensar.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hoje estou má

Deve ser por isso que estou a achar que quem destrói varandas para fazer marquises não merece ter uma coisa nem outra.

As palavras certas

A semana começou com um casamento. Segunda-feira é feriado nesta terra, e algum génio se lembrou de usar o dia para a cerimónia.
À saída da igreja, o habitual arroz, e o agora-pelos-vistos-na-moda lançar balões.
O meu acompanhante de luxo, que ainda pr'a mais se sujeitou a ir em tons de rosa para combinar com a toilette da namorada, olhava para o céu enquanto se lançavam os balões, quando se lhe escapa um compenetrado "Fantástico!". E eu "O quê?". E ele "O ar". Sorrio para mim e não lhe digo nada. Ele continua a ver o ar. E, naquele momento, gosto dele um bocadinho mais.

sábado, 18 de agosto de 2012

Jantar de sábado à noite

Faz hoje, precisamente, uma semana. Convívio de amigos, nada muito fora do habitual.
Preparava-me para espetar a faca na pizza, que já tinha chegado mais tarde que todos os outros. E... - Esperem lá, que queremos dizer uma coisa. Nós chamamo-vos aqui porque... [afinal havia notícias]... para o ano vamos casar! - Eeehhh (grande festa, que durou dois segundos). - Ahh, é nada, estava a brincar. É mesmo um pirralho que vem aí (e fez aquela meia oval em frente à barriga, que tira todas as dúvidas possíveis). E a festa foi ainda maior. Grande algazarra. Grande mudança. Grande crescimento.
Ainda bem que há pessoas que se vão apercebendo que crescem. Cá para mim, este comboio anda depressa demais para eu acompanhar a paisagem. Qualquer dia estou no Algarve, e ainda nem percebi que saí do Minho.
A C. e o K. vão ser pais. Pais a sério, com filho incluído e tudo. Parece mesmo que ainda no outro dia íamos ao 1º de Maio beber sumos virgens. Mas porra, esse café já fechou ao tempo, e o centro comercial está às moscas. Até aquele super cinema Verde Viana, que era de certeza - e para sempre - o melhor do mundo, já só tem sessões cineclubistas...
Sim, os putos crescem. E pelos vistos os putos já fazem putos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Fada do Lar pergunta #5

Um homem. Um WC. Um quarto de hora. Um rolo de papel higiénico. O que é que se passa?

A Fada do Lar pergunta #4

Para que raio servem aquelas entradas todas de detergente de roupa na máquina? É um labirinto, um quebra-cabeças? Um veja-lá-se-não-se-engana-no-caminho-embora-vá-tudo-dar-ao-mesmo-sítio?

A Fada do Lar pergunta #3

Luvas até aos cotovelos e botas de borracha de ir à pesca não chegam. Onde se alugam fatos de mergulho, botija de oxigénio e barbatanas incluídas, para poder limpar a casa de banho à vontade?

A Fada do Lar pergunta #2

O que fará mais barulho: o exaustor da cozinha ou a nave espacial que os Americanos aterraram em Marte?

A Fada do Lar pergunta #1

Quantas peças de roupa amarrotadas vou ter de usar até domesticar aquele bicho selvagem que é o ferro de engomar?

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Há coisas assim

Raspamos o fósforo contra a superfície. Insurge uma chama tão forte, tão viva, que absorve todas as atenções. Naquele momento, não há absolutamente mais nada a não ser aquela chama. É tão intensa que parece que vai durar para sempre. Até nos podemos distrair e queimar um pouco os dedos. Mas afinal, passados uns segundos (muito mais curtos do que se poderia adivinhar), aquela chama com ares de eterna apaga-se. E não resta mais que um pedaço de pau queimado.

Tão magnífico o espetáculo como a tragédia final.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A ti

Amo-te como quem não quer dizer nada, nem lembrar de coisa nenhuma, nem de mais ninguém. Como se desejasse que os nossos mundos se encontrassem neste momento pela primeira vez. Com a esperança de reconquistar a energia que se escapou da força gravítica que nos une.

E por ti, e pelos teus olhos doces que me envolvem em cada olhar, por esse abraço que não tem fim e me atravessa, por ti, e por nós – quero ser o melhor que possa ser, e esperar que isso seja o suficiente para que te me dês a cada instante.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Epifania

Último dia no internamento de paliativos.

Vinha no autocarro de regresso a casa, tinha dormido já meia hora, e que me tenha apercebido, nem vinha a pensar em nada. E senti. Senti.

Nunca cheguei a perceber o que tinha ido procurar no mestrado, nem porque me tinha inscrito sequer. Mas hoje encontrei a resposta. Também não sei qual é, como não cheguei a perceber o ponto de partida. Mas senti. Senti!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Era mesmo, mesmo isto!

Era gaja para mandar abaixo dois feijõezinhos mágicos à moda do Dragon Ball. Aqueles que ele tomava quando estava todo f*didinho e num ápice se punha novo, fresco e viçoso como uma alface.


A noite passada estava a programar o despertador, aquele aparelho maravilhoso que faz o favor de me calcular automaticamente quantos minutos faltam para acordar, e ainda tem a real lata de descontar uns segundos. O resultado foi desanimador: 20 minutos. E ainda consegui ter tempo para ter dois pesadelos. Ninguém merece ter dois pesadelos em vinte minutos. Um com dentes, como de costume, e outro com uma doente internada no serviço de paliativos: encontrei-a caída no chão, e não chegava à campainha de alarme, mas não saía do pé dela para pedir ajuda porque aprendi no socorrismo que não se pode abandonar a vítima... foi tão estranho e estúpido como só os sonhos conseguem ser. Vá, às vezes a realidade também não fica muito atrás...

Mas prontos, à falta de feijões, acho que vou ter de optar pelo método mais convencional e dormir à moda antiga, mesmo.

sábado, 14 de julho de 2012

Lanchinho d'hoje

Eu (armada em francesa) - Isso é um petit gateau?
A senhora do café (armada em inglesa) - Hmm... Não! É um muffin.
Eu (Ela 'tá a falar a sério? Poker face. 5 segundos de silêncio, e rendida à língua portuguesa) - Tem chocolate derretido no meio?
Ela - Tem.
Eu - Então venha.
---
Eu - Queres provar amor?
Ele - Não, obrigada.
Eu (depois três colheradas sôfregas) - Não sei como resistes a provar.
Ele - Se tivesses corrido 14 km como eu, percebias.
---
Deixa ver se percebi: eu como o "muffin-que-não-é-petit-gateau" à pressa porque sou uma preguiçosa que não se importa em ficar gorda.

Porreiro...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Apontamento #2

Tomei um banho relaxante.
Passei creme com o meu perfume preferido por todo o corpo.
Vesti um pijama lavado.

E o cheiro ainda não me saiu da memória.

Apontamento #1

O F. foi a personagem principal de uma urgência de ontem. Os coágulos de sangue interromperam o caminho que a urina devia seguir, e não havia maneira de a tirar cá para fora.
Nas unidades de cuidados paliativos também se corre. Também há urgências. E idas ao bloco para intervenções cirúrgicas marcadas na hora.
O F. foi ao bloco, e voltou com uma coisa chamada "sifonagem", que é quando se coloca a bexiga em lavagem contínua de soro. Apesar das medidas agressivas de ontem, hoje estava bem-disposto. Tão bem, que depois da sopa chata do jantar dei com ele feliz a comer um magnum after dinner e com um haagen-dazs na fila de espera, que marchou logo de seguida. Incentivei-o a comer, e ri-me quando no fim lambeu os dedos. Foi tudo muito mais natural do que quando tento convencer as pessoas a comer com menos sal e menos gordura [eu: a cheia de colesterol que adora enchidos...].

Lá vejo muitas lágrimas, mas também vejo pelo menos outros tantos sorrisos.

O H. hoje teve alta. Foi pelo corredor fora a acenar e a dizer "obrigado", até deixarmos de o conseguir ver e ouvir.
A M. entrou hoje. Tinha tantas dores ao tão mínimo toque que era perturbador. Mostrava um sofrimento que ia além do que eu pensava ser humanamente suportável.

Ao chegar a casa, depois de 13 horas de turno, inspirei-me no F. e comi um corneto de chocolate.

Amanhã é outro dia. Para a maior parte de nós.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Flutuações

Cortei o cabelo - a forma mais rápida e simples de perder peso.

E depois, em jeito de vingança, comi uma nata polvilhada de canela - a forma mais rápida e deliciosa de recuperar o peso de volta.

domingo, 8 de julho de 2012

Cumplicidade



É o que estes dois têm de mais perfeito. Um dos princípios mais estruturantes do amor. O betão armado - expressão com que tanto nos rimos nos nossos estados coletivamente ébrios em acampamentos.

E hoje: 107 meses. Mais um, e fazemos conta redonda :) Ando a conjecturar a melhor prenda de aniversário de sempre!

O início

Há umas semanas um colega de trabalho comentava comigo, divertido e inocentemente, que uma senhora que lá tinha ido, tinha perguntado se "a menina das picas" estava, perguntando por mim. Eu olhei para ele com os olhos vazios e ouvi um "piiiiii", que era o meu cérebro a dar sinal de morto quando me tentei lembrar o que é que eu estava ali a fazer.

Na semana passada iniciei um curto estágio no sítio onde, desde sempre, sonhei trabalhar. Na sexta-feira, mesmo à hora de sair do Porto, quando se iniciava a passagem de turno às 21h, a P. chamou, pedia uma massagem porque lhe doíam muito as costas depois de ter passado a tarde sentada no cadeirão.
Quando cheguei ao quarto, o marido despedia-se com um beijo na boca. A P. é tratada pelo título profissional, antes do nome. Tem 41 anos, mas podia ter 20 ou 90, a idade é irreconhecível. Já vi muitos corpos, muitos com caquexia, mas como esta não me lembro. O corpo reduziu-se ao esqueleto, que já não a suporta. Não tem força para tossir, embora precisasse para eliminar o desconforto que sente. O marido - alto, moreno, cheio de vida - fez-lhe um último afago na cara a ela - na cama, tão reduzida no corpo, mas tão imensa na presença - e saiu do quarto com a convicção de quem não pode nada.

A P., sentada na cama, rodou com a minha ajuda para o lado, e eu comecei a espalhar o creme pelas costas e pelos ombros. Perguntei-lhe sobre a profissão, que está inscrita no nome pela qual a tratamos. Contou-me o que fazia e como gostava. Perguntei-lhe sobre ela estar ali. Ela contou-me como a vida que conhecia mudou tanto, em pouco mais de dois meses. Agora diz "É um dia de cada vez". Fala num sopro, aproveitando a boleia do ar que sai dos pulmões. No final disse que estava muito mais aliviada, com a massagem. E agradeceu-me, quando, na verdade, quem tinha de agradecer era eu. Aquele momento lembrou-me de coisas que tinha esquecido.

Os vinte minutos que durou aquela massagem refletem-se num espaço infinito dentro de mim. O sentimento é inexplicável, não sei se ali a vida é tão complexa que não se pode entender, ou tão simples que não precisa ser entendida.

E por isso, na manhã seguinte, a "menina das picas" já foi trabalhar com muito mais dentro de si.

A nódoa

Usava uma t-shirt branca. Estava a comer distraidamente. No meio daquele prazer, sujei-me como uma criança desajeitada. Tentei com os dedos apagar os vestígios do meu descuido, mas só consegui espalhar mais a mancha. E agora: camisola na lixívia. Embora tenha medo que o pano não volte a ser o mesmo, prefiro-o mais fraco, mas limpo da nódoa.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Como é

É como decidir entrar num deserto com um mapa na mão, e depois de tanto andar, perceber que é inútil tentar voltar atrás. As areias são todas iguais, o caminho já foi esquecido, e o mapa não mostra o regresso. O ponto de partida ficou longe, tão longe que já não há certezas de que seja possível voltar lá. Ou que ele ainda exista sequer.

domingo, 1 de julho de 2012

Facto #3

Mais um dia como hoje e ganho úlceras de pressão.

Facto #2

Se não tivermos a capacidade de estar suficientemente concentrados, a vida não passa de uma distração de nós mesmos.

Facto #1

Continuo a ficar surpreendida quando uma mulher me diz que não pode ver sangue.

Hoje a S. casou-se

Foi a primeira vez que fui ao casamento de uma amiga.
E podia dizer muita coisa - que foi lindo, emocionante, que fiz beiço de choro mal a vi entrar na igreja. É tudo verdade.

Mas, no final das contas, o que mais me apraz dizer é que, para mim, casamento é tipo filhos.
Lindo, lindo, mas é se for dos outros.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Aviso

[Se o que me fores dizer não for dito por amor, então, não me digas.]

Gostava de ter isto escrito na testa. E que servisse de espantalho às gralhas que andam por aí a comer as minhas sementes.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

y=1/x

É curioso constantar que a minha disposição para escrever é inversamente proporcional ao meu bem-estar.

sábado, 23 de junho de 2012

Depois

Regressei à base. Ontem, ao dedicar aquela que eu pensava ser provavelmente a última sexta-feira ao grupo de teatro onde pertenço, tive uma surpresa. Tudo o que tinhamos adormecido, toda a energia que nos move naquele contexto, regressou como que num passe de mágica. Afinal não estavamos mortos, só moribundos. E a chegada de um elemento novo trouxe toda a esperança outra vez.


E hoje de manhã, quando saí para trabalhar, o Sol deu-me um abraço morno.


Depois da noite de ontem. Depois da manhã de hoje. Sinto-me com um sentimento que não tem palavras. Sinto-me como uma música. Esta.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Bom humor matinal

Sou a conjugação do verbo sonhar e o particípio do verbo falhar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

É isto

                                O que eu preciso hoje.



E a prova de que a Coca-cola não faz chorar só pelas bolhinhas que trepam pelo nariz.

Hoje

O dia de hoje, foi espetacular [ironia].
De manhã levei o carro ao mecânico, para ver se ele descobria porque é que uma família de grilos histéricos se decidiu mudar para lá. E pronto, o popó teve de ficar internado para estudo.
Às três, reunião com a coordenadora de curso. E eu na esperança que fosse sobre a coordenação do mestrado, ou para matar as saudades e tomar café. Mas os meus piores receios confirmaram-se. E mal cheguei, ela disse (com o meu projeto de tese de mestrado na mão) "C.zinha, as notícias que tenho para ti não são boas". Porra, que ela estava a implementar o protocolo de comunicação de más notícias na minha cara. E eu, respirei fundo, e sentei-me, ainda por cima mal-disposta, pela falta de força física,  porque tive ir a pé de casa à escola, pela falta de carro.
Era uma vez um projeto de tese. É uma pena, porque a ideia é aparentemente tão absurda que deu para muita gente se rir durante muito tempo. Então, não acabou apenas um projeto, mas uma piada genuína.
E eu pensei que o dia ia acabar assim, comigo a dispor papas pelos códigos de barra, nas prateleiras da farmácia.
Mas lembrei-me de ser impertinente e pedir colo. E, vá lá, quem estava do outro lado percebeu que era a sério e levou-me a comer petiscos, que me alimentaram a alma. E os beijos à esquimó dão a sensação que tudo no mundo se vai resolver. Que naquele instante, na verdade, está tudo resolvido.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Há uns dias

Lá na farmácia, veio um rapaz medir o colesterol.
Vinte e quatro anos, aquele típico aspeto de esquerda, descontraído, intelectual nas palavras, barba comprida e cabelo meio-por-pentear.
- 226. Está um bocadinho alto. Toma medicação para o colesterol?
- Não. Já tomei, e baixou. Deixei de tomar para ver se com o exercício vai lá. Não gosto de contribuir para a indústria farmacêutica.

E eu, que devia ser super-profissional, não me controlei.

- Ah, camaraaaada!

Rimos os dois. E deu-me umas saudades daquele tempo... em que eu achava que o mundo se ia resolver porque era tão evidente que havia os bons e os maus, e os bons ganham sempre.
E depois, já em casa, lembrei-me que tinha deixado a J pelo mesmo motivo que deixei de ir à missa - não suporto não ter de formar opinião. Fica toda a gente meio parecida quando há uma crença mesmo forte, e tenho dúvidas que isso seja útil.

Homófonas


                       Esse Orlando Pedroso é foda mesmo!

sábado, 16 de junho de 2012

Esta é privada

Reserva-se de um modo geral aos que conhecem bem os medicamentos, e de um modo particular àqueles que trabalham em farmácias.

As músicas que passam na farmácia onde trabalho:

Faixa 1 - Flagyl, esta noite noite estou tão Flagyl...Flagyl, já nem consigo ser ágil.
Faixa 2 - Oh Narhinel, oh Narhinel. Oh Narhinel, nu ta brinca só iá iá
Faixa 3 - Depuraliiiiina, silêncio calma, feitiçaria na tua alma...
Faixa 4 - You can be my umbr - Elás, Elás, Elás. Ei ei ei.

Ai Vichy Maria, que risota :)

Carência

Bio-psico-social, cultural e espiritual.

Carência holística.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Energia

É impressionante pensar que pessoas inventaram pilhas. As pilhas são coisas maravilhosas. Gostava de perceber o que se passa lá por dentro.
Não obstante, as pilhas estão a dar cabo do meu projeto de tese de mestrado, por motivos que não interessam especificar. Não estou certa que a culpa seja das pilhas, ponho a hipótese do meu fracasso temporário se dever à lacuna de conhecimentos que detenho na área da física quântica.

E sim, a dissertação é em enfermagem de cuidados paliativos.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Despedida

Quando se tem vergonha daquilo que se pensa, diz ou faz, e a menos que se seja obstinadamente cego da alma, tem-se a oportunidade de ver um pedaço de nós próprios.
Saber o que é errado, relembra o que é certo. E depois é preciso escolher, entre o certo e o errado, e também isso revela outra parte de nós. (E o certo e o errado, existem?)
As palavras são formas de materializar o pensamento - as palavras constroem, iludem e são formas de comportamento. Dizer é fazer.
E, quando as palavras se gastam pela fraqueza do espírito, restam só as que se reservam à despedida.

Toda a despedida é dor... tão doce todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia (Shakespeare)

                                                                  Adeus.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Vontade

De fumar. De beber coca-cola.

E outras coisas.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

No fio da navalha

No limite da corda... fui reconquistada.

E a vida sorriu-se-me de novo :)

Ainda há pouco

Pedi-lhe ajuda, pedi que me consertasse ao som da fix you, o coração apertado como já não me lembrava. E ele disse-me que às vezes é preciso errar. Provavelmente é isso mesmo  que me faz falta: perder o medo de decidir por causa do medo de errar.
Bom mesmo era que o mundo parasse de girar e concentrasse tudo num momento, solene de silêncio comigo. Em que eu perdesse tudo e não tivesse mais nada em mim senão um rebentamento de paixão de recuperar o que, ao ter perdido, me tinha feito falta. Não é sensato viver desapaixonadamente.
Chegou o cansaço de quem corre sem estar a ir para lado nenhum.

E por falar nisso, hoje tranquei a porta do teatro, a que há umas semanas tinha fechado. Onze anos de sextas-feiras pré-destinadas e agora... e agora?

Ressaca

Cérebro a zero. Pensamentos incoerentes.
A incapacidade de distinguir o real do fantasiado.
A incerteza entre as coisas às quais pertenço, às quais poderia pertencer, e aquelas às quais não serei mais do que um equívoco mal-esboçado.

Numa quarta bebi muito. Demais. Como não bebia há muito tempo, já não conhecia o meu corpo assim. E o meu corpo está diferente, em muitos aspetos. Fui parva, mais do que uma vez. No sábado seguinte bebi muito, outra vez. Como ainda não me habituei a mim própria, acabei a alimentar as bochechas com as batatas fritas que não encontravam o caminho para a boca, e fui parar à tenda três horas antes de todos os outros. Hoje é quarta-feira outra vez. E o meu cérebro continua confuso, como que alimentado por uma bebida que não bebi. E o meu corpo continua estranho... não sei dele, como não sei de mim.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Na dúvida

Entre pegar no meu homem, partilhar casa com ele de uma vez, ter um rancho de filhos para passear ao domingo e para me obrigarem a tirar os olhos do umbigo.

                                                   e...

Fazer a mochila e deixar tudo para trás.

O que queres ser quando fores grande?

Estou convencida que boa parte dos meus problemas reside no facto de eu ainda não saber o que quero ser quando for grande.

Tenho dito!

Na próxima vida, se for para vir mulher - NÃO VENHO!!

Não há pachorra para estas flutuações hormonais...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Confidência

Às vezes preciso perder-me para te encontrar.
Com o teu amor laçaste-me uma corda invisível que me oscila entre a cintura e as ancas. Às vezes vagueio sozinha, espreito as redondezas, mas ora sinto o teu puxar da corda suave, ora sou eu que lhe busco a pista de retorno a ti. Nunca esta corda rompeu.
Foram tantas as vezes que precisei perder-me para te encontrar. Mas volto, sempre, a ti, que amo.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Verdade imácula

O mundo seria um lugar muito mais negro se os palavrões não tivessem sido inventados.

terça-feira, 15 de maio de 2012

15 de maio

O dia em que, ao pousar na balança, fez com que ela tendesse irreversivelmente para os 30.



Piadinha :) Na verdade, sinto-me  mais como:


A pior parte já passou, que é aquela deprê pré-aniversário.
Agora só para o ano, uffaaa....

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Things you shouldn't apologize for #3

                                  Ilustração de Quino

Só às vezes

As palavras fazem e desfazem sentimentos.

Bolhinhas

Adoro coca-cola, 7up, sprite. Adoro guaraná, água tónica, água das pedras, pepsi. Adoro frisumo, fanta e sumol.
Adoro gás com qualquer coisa a acompanhar.

O meu amor é incapacitante

É castrador fragilizante, sufocante. Quando amo quero guardar tudo debaixo das asas que já herdei.
Gostava mesmo era de ter um amor daqueles "puxa-pra-cima", daqueles "vai, que tu consegues", mas não. Tenho daquele "vai, mas tem cuidado", e do "já viste o que fizeste?". Tanta coisa errada, tanta... e tudo em nome do amor.

domingo, 6 de maio de 2012

Things you shouldn't apologize for #2

                                Ilustração de Orlando Pedroso

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Hoje de manhã

A chuva andava tão depressa e o meu coração com tanto vagar.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sobre Envelhecer

No outro dia dei por mim aterrorizada ao perceber que a maior parte das pessoas da minha geração está a casar e a ter filhos.
E se um dia der por mim a reparar que a maioria das pessoas da minha geração está a morrer?

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Morro de medo

Não quero mesmo nada, nada morrer. Só de pensar nisso dá-me vontade de morrer.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Paralelo #1

Chorar é como vomitar.
Aquele conjunto de convulsões automáticas e incontroláveis.
A vida que se gera espontaneamente de dentro do corpo para fora.
O alívio doloroso que fica no final.

Nunca vomito e raramente choro. Talvez o devesse fazer mais vezes. Talvez sejam formas de purgar a alma através do corpo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

21.02.2012

É hoje.

E devo confessar que ando com um pequeno problema com os números, que me começa a preocupar um bocadinho. Tem-me acompanhado nos últimos tempos uma pequena obcessão: quase sempre que olho espontaneamente para o relógio vejo horas que só variam entre os XY:XY e os XY:YX. Hoje quando olhei para o relógio vi com alegria que não era nenhum destes casos. Mas reparei na data, em baixo e, lá estava a capicua:

21.02.2012. É hoje, e hoje é dia capicua.

Qualquer dia estou como o tolinho do Jim Carrey no filme "23"! [morrendo dji riso] Havia de me dar para boa...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Moi-même


Cada vez que olho para o meu corpo, sinto que estou mais bonita. O único senão é ser uma beleza renascentista... Ai Leonardo, se me tivesses conhecido, tinhas-me adorado!... :)

Diz a Hennezel

Hennezel, que é a autora do livro que estou prestes, prestes a devorar [Diálogo com a Morte] - "os que vão morrer ensinam-nos a viver".

Estou mesmo a precisar disso, de aprender a viver, para, ao contrário, aprender a morrer. Ciclo ininterrupto.

Nos próximos tempos andarei por estas temáticas até ao tutano - ninguém manda estudar paliativos.

É a descida ao Inferno, por DONA Maria da Conceição Dante, exímia complicadora das temáticas vulgas, simplórias e alheias à generalidade das pessoas equilibradas.

Só espero que isto resulte numa "Divina Comédia"!


[Tudo na vida é um problema existencial em potência. Se isto ainda fosse o desmontar necessário para um estruturação sólida, não estaria tão preocupada. Mas não vejo nada, a não ser dúvidas que se acumulam.]

A propósito d' "As Terças com Morrie"

Marcou-me, entre outras coisas, o relato que Morrie faz de uma história que o seu professor de meditação lhe havia contado. É uma perspetiva curiosa sobre a vida e os seus limites.

«No outro dia ouvi uma historiazinha simpática - diz Morrie. (...) A história é sobre uma pequena onda, a balançar pelo oceano fora, divertindo-se à grande. Goza o vento e o ar fresco, até que repara nas outras ondas à sua frente, a despenharem-se nas rochas.
- Meu Deus, isto é terrível, - diz a pequena onda - Olha só o que me vai acontecer!
Aí chega outra onda. Vê a primeira onda, parecendo chateada, e pergunta-lhe:
- Porque estás tão triste?
A primeira onda diz:
- Oh, não compreendes! Vamos todas despenhar-nos! Todas nós, ondas, vamos transformar-nos em nada! Não é terrível?
A segunda onda diz:
- Não, quem não compreende és tu. Tu não és uma onda, tu és parte do oceano.»

domingo, 29 de janeiro de 2012

Desde então

Desde a última vez que vim a este espaço, Junho do ano passado, aconteceram algumas coisas:
- Suspendi o curso de Design para entrar no Mestrado em Cuidados Paliativos.
- Acabei o 1º semestre do Mestrado.
- Li "As terças com Morrie", e outros livros que não me marcaram tanto.
- Acabei a formação inicial e fiz serviços na Cruz Vermelha.
- Dei as minhas primeiras formações a adultos, que adorei.
- Entrei em mais um espetáculo do grupo de Teatro.
- Adotei um gato.
- Fiquei viciada na futilidade que é o Cityville.
- Dupliquei a dose dos comprimidos para o colesterol, que me passaram a dar náuseas, e por isso decidi substitui-los por sementes de linhaça (mas só até ao susto que apanhar da próxima vez que for fazer análises ao sangue).
- Os laranjas provaram ser mesmo a pior coisa que podia acontecer a um sistema social.
- Comprei um bloco de notas da Moleskine. Design que vale cada cêntimo.
- Ando a tentar cortar na escrita das consoantes mudas.

Sofrer II

O sofrimento é muito semelhante a um vetor, da física. Ambos têm uma direção, uma intensidade e um ponto de aplicação.

Sofrer

Na vida é preciso sofrer. Até se sofre pela culpa de sofrer.