segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Cólica cardíaca

Quem já teve uma cólica a sério vai perceber o que digo. Mas é preciso remeter-se a uma boa cólica, daquelas valentes, que dá suores frios e arrepios de dor, que dá a sensação de morte eminente.
Volta e meia, sofre-se de cólicas cardíacas.
Na tentativa de se libertar dessa opressão ridiculamente persistente, o coração insiste em apostar numa alternativa aos flatos, já que esse órgão é fisiologicamente incapaz de os produzir - as palpitações. Não!, disse mal - os estrangulamentos cardíacos, será mais adequado. São tantos e tão fortes, que reduz o "coração a sair pela boca" a uma expressão para meninos.
O corpo treme todo, da cabeça aos pés. A visão fica turva, o pensamento toldado. A barriga aperta, como se levasse um soco mas não conseguisse sentir dor. O corpo contrai. A respiração transforma-se num arfar aflitivo. Quase se consegue ver a olho nu a descarga de hormonas que se lançam na corrente, completamente desorientadas: adrenalina, dopamina, endorfinas... todas as "inas" que, presentes em quantidades vestigiais são, ainda assim, capazes de reduzir o nosso corpo e tudo o que está dentro dele a um autómato imbecil. E quando se exacerbam os sintomas em simultâneo? É a mímica perfeita de um ataque de pânico e ansiedade. Como se nos cruzássemos com um leopardo enfurecido e descobríssemos que temos os pés colados aos sapatos, e os sapatos colados ao chão.
É mau, mau demais. Como uma doença psiquiátrica que alterna períodos alucinatórios com momentos de lucidez. Como se não nos pertencêssemos mais. Não nos pudéssemos prever, não nos reconhecêssemos naquelas reações biológicas estranhas e desprovidas de sentido, na inacreditável falta de bom senso e sensatez.
A má notícia: não há sanita p'ra aliviar este tipo específico de cólicas.
A magnífica notícia: duram muitíssimo pouco.
Depois, é só o tempo de nos esquecermos o quão exasperante e nocivo para o corpo é, para logo voltarmos a suspirar por um momento mais assim. E põe-se tudo em causa, como um viciado que troca a vida toda por uma droga qualquer.

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