segunda-feira, 13 de julho de 2015

Problemas de espaço

Estamos com problemas de espaço, tu e eu.
Tu, porque já chegas do meu estômago à minha bexiga. Não tens muito mais por onde crescer, já que a pele, marcada de raios que se transformarão em cicatrizes, não dá grandes esperanças de se poder distender por aí além.
Eu, porque tenho o ventre cheio e os braços vazios. Espero que mudes de espaço em breve para te poder cheirar.

domingo, 7 de junho de 2015

Para ti, ser de luz

Amo-te do fundo do meu coração. De um coração que eu nem sabia que tinha. Enchi-me duma alma que é maior do que eu própria.
Vou ter saudades, sabes?
De te ter dentro de mim, de te sentir crescer, mexer como se estivesses em casa. E estás - o meu corpo é a tua casa. O teu mundo. É o que quiseres. Estica-te à vontade das costelas às ancas, não me importa mesmo nada. Espreguiça, dá patadas, socos, faz-me cócegas, diz-me a todos os momentos que somos um só - e a cada momento te amo mais.
Em breve precisarás de um mundo maior. E eu terei de te dar a esse mundo que esperas, e que espera por ti. Mas vou guardar sempre na memória do meu coração todo o bem que me fazes sentir. É tão bom sermos um, e será tão bom sermos dois.
Aprenderei a partilhar-te e poderei finalmente ver-te sorrir.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Aleatório 2

Era uma vez uma mulher que estava tão habituada a fingir, que um dia foi violada e pareceu que estava a gostar.

Aleatório 1

Era uma vez um homem tão triste, que ficou rico de tantas moedas que apanhou do chão.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Des-sono

Deitámo-nos lado a lado e ele embrenha-se no seu sono egoísta. Num derradeiro gesto de solidariedade, prolonga-se na minha direção e apanha-me com um (a)braço. Eu repouso a cabeça naquele ondular cada vez mais autónomo, cada vez mais profundo, enquanto ele se deixa ir. O seu cérebro entregue ao subconsciente, e o corpo refém de que eu o abane e me queixe que não tenho sono. Mas deixo-o dormir. E deixo-me ficar ali sozinha. A pensar nestas coisas. Até que de repente me levanto num sobressalto porque devo escrever isto antes de eu mesma adormecer, sob pena de nunca mais me lembrar de todo este momento de solidão. Ele regressa do vale do sono com o meu movimento abrupto e pergunta "o que fazes mulher?". Eu sei que ele pensa que peguei no telemóvel para jogar Candy Crush mas não tenho tempo de lhe desmentir o achado e explicar que vou apontar desvarios com medo que as palavras me fujam do cérebro. Então digo só um "Shuuu!" autoritário. Ele vira-se na cama e eu perco o meu abraço.

Ou então:
Deitámo-nos para dormir. Ele adormece, são duas da manhã, passamos o dia a passear numa cidade nova e a noite a fazer amor. Eu pouso a cabeça no peito dele mas não tenho sono. Então ponho-me a pensar tolices, como aliás já é costumeiro. E saio do peito dele para escrever. Neste exato momento, já somos dois acordados.

sábado, 19 de abril de 2014

Aguarela

Entre a paixão verde arco-íris e o amor laranja melado.
Fecho os olhos e mil formigas percorrem libertam-se do cérebro e alastram-se pela cara até à ponta do nariz. Penso "ou é da tensão baixa, ou do excesso de tensão". E solto um "aaahhhhyyy". Esfrego os olhos e continuo a diluir o antibiótico que tem de estar a correr na veia de alguém à hora certa.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Boletim metereológico

São 10:30 da manhã. Levantei-me às 6:30. Nestas quatro horas em que estive acordada já choveu, já nevou, e agora mesmo faz sol. Esta terra é um catálogo vivo de condições atmosféricas.