sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quando era pequena

Acreditava que quando a Lua estava em quarto crescente, assim muito fininha, como esteve ontem à noite, picava nas pontas, e os homens que tivessem que ir à Lua não podiam escolher os dias em que ela estivesse assim, porque era difícil equilibrar a nave num espaço tão estreitinho, e porque se, sem querer, batessem nas pontas picavam-se à brava.

 
Pensava que o Sol pousava mesmo no mar, e todos os pescadores tinham de ter cuidado para à hora do pôr-do-sol não se aproximarem muito daquela zona senão ficavam escaldados. Então o Sol entrava pelo mar adentro, ia até às profundezas da Terra, e durante a noite passava muitos metros abaixo das nossas camas (claro que era por isso que à noite estava escuro, e fazia mais frio), ia sempre em frente, sempre em frente, pelo meio do planeta, até que de manhã chegava finalmente ao outro lado, irrompia pelo monte, e lá estava ele outra vez, a tirar a luz de dentro da terra, pronto para voltar a fazer o percurso no céu até ao mar, onde chegava outra vez já no fim do dia.

Tenho saudades disto que nunca mais vou ter, a ingenuidade de perceber tudo apenas como os meus olhos vêm. A imaginação de não pensar.


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