sexta-feira, 20 de junho de 2014

Des-sono

Deitámo-nos lado a lado e ele embrenha-se no seu sono egoísta. Num derradeiro gesto de solidariedade, prolonga-se na minha direção e apanha-me com um (a)braço. Eu repouso a cabeça naquele ondular cada vez mais autónomo, cada vez mais profundo, enquanto ele se deixa ir. O seu cérebro entregue ao subconsciente, e o corpo refém de que eu o abane e me queixe que não tenho sono. Mas deixo-o dormir. E deixo-me ficar ali sozinha. A pensar nestas coisas. Até que de repente me levanto num sobressalto porque devo escrever isto antes de eu mesma adormecer, sob pena de nunca mais me lembrar de todo este momento de solidão. Ele regressa do vale do sono com o meu movimento abrupto e pergunta "o que fazes mulher?". Eu sei que ele pensa que peguei no telemóvel para jogar Candy Crush mas não tenho tempo de lhe desmentir o achado e explicar que vou apontar desvarios com medo que as palavras me fujam do cérebro. Então digo só um "Shuuu!" autoritário. Ele vira-se na cama e eu perco o meu abraço.

Ou então:
Deitámo-nos para dormir. Ele adormece, são duas da manhã, passamos o dia a passear numa cidade nova e a noite a fazer amor. Eu pouso a cabeça no peito dele mas não tenho sono. Então ponho-me a pensar tolices, como aliás já é costumeiro. E saio do peito dele para escrever. Neste exato momento, já somos dois acordados.

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