terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Coisas que não percebo, mas gosto [.]

Gosto de sentir-me assim:


Amarelo torrado.

Às vezes acordo e descubro que gosto de um alimento que nunca gostei antes. Sem o provar, sem o ver, sem o cheirar. Acordo, e de repente gosto. Foi assim com quase todos os legumes, um a um.

Às vezes associo pessoas a cores, de forma tão intensa que no cérebro fica tudo misturado. Quando me surge a pessoa, na cabeça ou na frente, aparecem a cor e a pessoa num borrão só. O professor de história era castanho. O meu colega André, da primária, era cor-de-laranja.

Vem-me um paladar à boca, que não consigo identificar. Chega do fundo da memória. Qualquer coisa que provei e gostei, mas cujo sabor ficou perdido no tempo. Eu tento ir atrás dele antes que desapareça. A maior parte das vezes some-se sem que o consiga identificar. E esqueço-me logo dele. Mas quando tenho a sorte de o apanhar, sou transportada no tempo, para memórias que estavam completamente adormecidas.

Mistura-se tudo cá dentro, numa espécie de sinestesia completa de cores, sabores, sentimentos, pessoas e memórias. E cheiros. Com os cheiros é demais.

Há uns tempos vinha a andar pela rua e senti-me amarelo torrado. Lembrei-me que, ainda antes de entrar na adolescência, me sentia muitas vezes assim. Não associava ao amarelo torrado, mas no outro dia recordei o sentimento, e sabe-se lá porquê juntou-se a cor.
Agora ando quente com aquela sensação. Amarelo torrado. Queria sentir-me sempre assim.

E depois amarelo torrado é um nome maravilhoso. Não é bem amarelo. É torrado. E não é tostado. É torrrrrrrrado. Gosto de ti amarelo torrado. Acordei e descobri que gosto de ti. E de alface, feijão e tomate.

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